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Educação patrimonial

Uma ação educativa envolve ações de construção e compartilhamento de conhecimentos, investigações para se conhecer algo e entender a fim de transformar a realidade de um conjunto de pessoas. Quando estas ações são feitas considerando um patrimônio cultural, trata-se de Educação Patrimonial, que consiste em:

 

[…] todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera ainda que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de Patrimônio Cultural (FLORÊNCIO et al., 2014, p. 19).

 

A Educação Patrimonial é um processo dialógico e democrático, dentro da perspectiva freiriana, que preza pela alteridade, respeito à diversidade cultural e pela participação ativa dos produtores e detentores do patrimônio como sujeitos sócio-históricos. Contudo, para se chegar a este conceito, houve muitas críticas, contornos e ressignificações desde seu surgimento, em meados de 1980. É importante destacar que, para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o patrimônio cultural é uma construção social e, por isso, deve ser apropriado socialmente, e a educação patrimonial só é concebida a partir da noção de referências culturais, que pode ser entendida como a diversidade de sentidos e valores atribuídos pelos diversos sujeitos a bens, práticas culturais e produção material (TOLENTINO, 2016).

 

É uma iniciativa que permite o reconhecimento e apropriação de bens culturais pela comunidade, por meio de ações educativas; não possui uma metodologia pronta, pois enquanto um processo, recorre a várias metodologias de aplicação. Contudo, ao se trabalhar os processos educativos referentes ao patrimônio cultural, deve-se ter em mente que estes são mais efetivos quando são incluídos nas diversas dimensões das vidas das pessoas. Como explica Florêncio (2012), o patrimônio deve fazer sentido e ser percebido nas práticas cotidianas dos sujeitos. Por isso, faz-se necessário associar, de forma contínua, os bens culturais e a vida cotidiana por meio da criação de símbolos ou atribuição de valores a eles.

 

Tolentino (2019) fortalece a ideia de que as práticas educativas de caráter dialógicas são essenciais para as ações de educação patrimonial, pois partem das possibilidades da construção coletiva do que é considerado patrimônio cultural, e não aquilo que é dado, fetichizado e imposto como patrimônio. O diálogo, a negociação, e muitas vezes os conflitos que podem surgir diante destas ações, implicam em reflexões críticas nas definições e apropriações de patrimônio cultural, não esquecendo de ter os agentes e detentores de saberes tradicionais da comunidade como parceiros ativos de todo o processo. Desta forma, a tarefa da Educação Patrimonial também é questionar estas desigualdades presentes no campo do patrimônio, apresentando a perspectiva libertadora e emancipatória por meio da decolonialidade, ou seja, desmistificando o patrimônio a partir de outras perspectivas, ou como Scifoni (2012) cita, escovar a história a contrapelo e com pretensão de “romper com os processos de patrimonialização que reproduzam os processos de dominação do saber-poder sobre as memórias historicamente subalternizadas de grupos sociais não hegemônicos” (TOLENTINO, 2018, p. 41).

 

Por se apresentar como uma nova perspectiva sobre os patrimônios, a Educação Patrimonial decolonial [1] procura romper com os processos colonialistas e eurocêntricos em relação ao patrimônio cultural no Brasil, marcado por valorizar locais de repressão e personagens da elite política, militar, religiosa e econômica. Ou seja, é reconhecer a diferença e diversidade, a interculturalidade, dando visibilidade aos saberes não reconhecidos oficialmente, trabalhando a horizontalidade entre diferentes conhecimentos (TOLENTINO, 2018).

 

REFERÊNCIAS:

FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim. Educação patrimonial: algumas diretrizes conceituais. In: PINHEIRO, Adson Rodrigo S. (org.). Cadernos do patrimônio cultural: educação patrimonial, v. 1. Fortaleza: Secultfor: Iphan, 2015. p. 19-30.

FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim et al. Educação patrimonial: histórico, conceitos e processos. 2.ed. Brasília: Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc, 2014.

FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim. Educação patrimonial: um processo de mediação. In: TOLENTINO, Átila Bezerra (org.). Educação patrimonial: reflexões e práticas. João Pessoa: Superintendência do Iphan na Paraíba, 2012. (Caderno temático, 2).

LONDRES, Cecília. Referências Culturais: base para novas políticas de patrimônio. In: IPHAN. Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Brasília: Iphan, 2000.

SCIFONI, Simone. Educação e patrimônio cultural: reflexões sobre o tema. In: TOLENTINO, Átila Bezerra (org.). Educação patrimonial: reflexões e práticas. João Pessoa: Superintendência do Iphan na Paraíba, 2012. (Caderno temático, 2).

TOLENTINO, Átila Bezerra. Educação patrimonial e construção de identidades: diálogos, dilemas e interfaces. Revista CPC, São Paulo, n. 27, p.133-148, jan./jul. 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/158560/155803. Acesso em: 25 jun. 2021.

TOLENTINO, Átila Bezerra. Educação patrimonial decolonial: perspectivas e entraves nas práticas de patrimonialização federal. Sillogés, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p. 41-60, jan./jul. 2018. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/15091/1/Educacao_Patrimonial_Decolonial_perspect%20-%20Atila%20Tolentino.pdf. Acesso em: 25 jun. 2021.

 

[1] Sobre a educação patrimonial decolonial, conferir Tolentino, 2018.

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