Bibliotecas e patrimônio
A biblioteca é um espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico. É um teatro de uma alquimia complexa, onde a leitura, escrita e a interação entre estas liberam forças e movimentos do pensamento, permitindo diálogos com o passado, criação e inovação. Ela dá sentido aos saberes e conhecimentos da coletividade, através da conservação dos materiais disponíveis em seu acervo. Além disso, apresentam as concepções de cultura, saber e memória, e sua história, no Ocidente, é ligada a cultura e pensamento. Não apenas como lugar de memória, em que os vestígios do pensamento humano através da escrita são depositados, mas também como um espaço dialético, em que cada etapa da história é negociada os limites e funções da tradição, as fronteiras do que é dizível, legível e pensável, a continuação das genealogias e das escolas, bem como o que é acumulado com o tempo nos campos do saber, suas rupturas e reconstruções. Possuem o papel de transmitir a cultura e os saberes, pois são lugares de continuidade, mas também de rupturas de tradições (JACOB, 2008).
As modificações nas formas de registro do pensamento humano pela história elevaram sua produção, tornando-se imprescindível a preservação. O ato de reunir documentos escritos – do papiro ao pergaminho, dos manuscritos ao impresso – para torná-los testemunhos da história, permitiu a construção de arquivos e bibliotecas, tornando o documento um monumento e não apenas um material. Esta é uma expressão do poder da sociedade do passado sobre a memória e o futuro, ampliando sua área de abrangência, visto que atualmente, os documentos abrangem palavras, gestos e são até arquivados tecnologicamente (LE GOFF, 1990).
De acordo com Milanesi (1995, p. 16), “a história da biblioteca é a história do registro de informação, sendo impossível destacá-la de um conjunto amplo: a própria história do homem”. Nisso, percebemos que as bibliotecas têm muito a contribuir nas temáticas relativas ao patrimônio e à memória. Desta forma, atividades que englobam temáticas tradicionais da comunidade podem ser incluídas no contexto da biblioteca, possibilitando maior envolvimento com a comunidade local e apreensão de conhecimentos, identificações e saberes.
Dar foco ao patrimônio cultural é uma das possibilidades de trabalho que abrangem a mediação e a oportunidade de trabalhar a competência em informação, contribuindo com a construção e compartilhamento de conhecimentos, entendendo e transformando a realidade através de trabalhos de educação patrimonial.
REFERÊNCIAS:
MILANESI, Luís. O que é biblioteca. 10.ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. (Primeiros Passos, 94).
JACOB, Christian. Prefácio. In: BARATIN, Marc; JACOB, Christian (dir.). O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2008.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1990.